Ubuntu pra ti, ubuntu para nós! Só sou porque somos e isto quem me ensinou não foi um conceito eurocêntrico, mas um pensamento ancestral. Iniciarei essa troca construindo um diálogo entre formação, educação libertadora e empreendedorismo. Os motivos deste diálogo? Primeiro, porque outubro foi o mês dos professores/educadores e acreditamos na prática problematizadora que não distancia os fazeres do educador e do educando. O que isto tem a ver com o ecossistema de negócios de impacto, seja o tradicional ou o de periferia? Ora, devemos compreender que o educador se educa no processo de formação junto ao educando e não sobre este. Outro ponto importante é compreender que a maioria dos temas já fadados em espaços acadêmicos, congressos e fóruns ainda sequer chegou em todas as periferias deste Brasil. Falo de Brasil, porque precisamos compreender que o que chamamos de empreendedorismo social já acontece há muitos anos em todos os rincões deste país, não somente no Sudeste.
Levanto alguns questionamentos. O ecossistema de negócios de impacto já foi dialogado nas quebradas? Todas e todos já conhecem esse conceito? E o conceito de Negócios de Impacto da Periferia (NIP), o qual esta é parte protagonista: já falamos sobre isso em todas as periferias? Já esgotamos esse assunto a ponto de sair dele e criar ou recriar outros temas, contra-temas ou conceitos?
Já vivenciamos filmes como esse: o assunto começa a repercutir na quebrada e coloca sujeitos periféricos a questionar e contradizer o que estava posto. Do nada é dito como superado e deixa de ser dialogado, deixa de ser algo democratizado, porque, na visão de um grupo específico, tem outro conceito da moda para ser explorado.
Estamos cansados deste ritmo dado e orientado por outros, estamos exaustos de nos dizerem o que estudar, o que aprofundar, o que é moda, sem enxergarem nossas necessidades e que aqui há atrasos no que tange aos conceitos que definem as práticas de formação e acesso ou mobilidade social. Neste momento estamos vendo diversos atores do ecossistema de negócio de impacto da periferia co-criar espaços na compreensão do Interpreendedorismo, de práticas comuns e coletivas de formação. Além disso, estes atores ainda de ocupam as lacunas ditas pelo ecossistema tradicional. É importante dizer que isto já acontece em âmbito nacional, o que nos anima a querer pulverizar ainda mais o conceito ainda pulsante e em expansão, chamado de NIP.
Reconhecer o lugar onde vem sendo construída tais ações se faz necessário – não como mapeamento, que sempre chega como algo inédito e nunca considera o estudo anterior. Trata-se de algo pulsante, vivo e permanente, que não relativiza os saberes, pelo contrário, considera o mesmo e parte dele para os aprofundamentos teóricos e as vivências nas práticas por meio de diferentes ações: ora chama-se de LAB, ora de gestão da criatividade, ora de roda de conversa, ora de escola, ora de programa de formação. Estes nomes não divergem da essência ou do resultado final, que é compreender a necessidade de empreendedores tradicionais e de empreendedores sociais que estão na ponta, no fazer cotidiano, impactando outras pessoas, desenvolvendo o seu entorno, ampliando a cultura empreendedora periférica.
Precisamos, como organizações intermediárias no ecossistema de negócio de impacto da periferia, compreender o que é concorrência, de fato, ou o que é completude. Como podemos, enquanto parte do ecossistema, desenhar este setor, onde todas e todos estejam inseridos, onde os papéis se complementam e, assim, se fortaleçam. Juntos somos mais fortes e isto não é jargão quando se trata de quem é genuinamente periférico, de quem olha e acredita nesta parte da sociedade, que é invisibilizada. Fomentar nossos espaços é esperançar no dia a dia, é romper com um sistema que teima em nos dividir, para, assim, ficar mais fácil para nos dominar. É tática branca essa de nos colocar uns para concorrer com o outros. Precisamos nos alinhar, o Brasil precisa desta expansão de possibilidades e de diversidade de territórios. Tem dúvidas sobre como fazer?
Contrate quem está à frente destes espaços, crie condições de vendas de serviços para os pares ao convidá-los para uma troca ou uma atividade, contabilize no orçamento essa participação. Assim fomentamos a visibilidade e também o financeiro, que tanto precisamos fazer pulsar.
Busquemos nos encantar uns com as trajetórias dos outros, sem ingenuidade, mas com firmeza de proteção e de alinhamento. É necessário que possamos expandir nossos conhecimentos, sem romper, sem falar sobre, mas com os que estão nas pontas, nas ribeiras, nos territórios rurais, nas quebradas, nas favelas e nos aglomerados. Romper com o que nem chegou para todos como processo democrático de formação é deixar evidente o lugar que se quer ocupar. Sejamos uno para depois sermos plurais.
Sou cria daquelas que lutavam sem teorizar. Hoje, entre passado e futuro, faço da Educação minha bandeira. É em meu peito que pulsa o verbo esperançar e só por isso sobrevivemos até aqui.