Por melhores que sejam as intenções dos financiadores ao oferecerem processos de aceleração e capacitação às organizações apoiadas, muitas vezes, eles se “esquecem” de perguntar o que as iniciativas sociais realmente precisam e acabam impondo uma visão top down, que nem sempre contribui, de fato, para o desenvolvimento institucional desses projetos.
Apesar de, em geral, ser impossível oferecer um programa de potencialização sob medida para cada organização apoiada, empurrar um “pacote padrão” de capacitações tende a não trazer muitos resultados. Afinal, muitas vezes, os líderes ou colaboradores já passaram (ou estão passando) por outras formações semelhantes. Sem contar que, se cada financiador exigir a presença dos líderes em seus processos de capacitação, é possível que esses empreendedores passem mais tempo participando de oficinas do que realmente liderando suas organizações…
Realizar um bom diagnóstico das organizações, num processo co-criado com elas, é o primeiro passo para um uso mais eficaz dos recursos (e do tempo de todos!) e para que se estabeleça um trilho de crescimento e desenvolvimento relevante e eficiente.
Uma escuta ativa e empática das dores desses líderes e de suas organizações somada a uma construção colaborativa de uma jornada de aprendizado tende a apresentar resultados mais satisfatórios para todos.
Ao longo dos últimos anos, a ponteAponte vem investindo em processos de potencialização que seguem esses princípios (inclusive já escrevemos um artigo sobre o tema para a plataforma do GIFE). Partimos sempre de um diagnóstico inicial, contando tanto com uma avaliação nossa quanto com uma autoavaliação da organização, para desenharmos uma trilha de encontros, oficinas e mentorias, que faça sentido para o grupo de apoiados, privilegiando, sempre que possível, a potencialização cruzada, isto é, a troca de saberes e experiências entre o próprio grupo.
Aos financiadores, sugerimos, quando viável, que participem ativamente do processo de potencialização também, ao invés de somente “assinar o cheque”. Conhecer o dia a dia das organizações, além de suas necessidades e potencialidades, contribui para um relacionamento mais próximo e fluido entre financiador e financiado. Mas, evidentemente, desde que essa relação seja construída com base na confiança e no interesse genuíno em participar. Caso contrário, se o financiador aparecer “do nada” em uma oficina no meio do processo, pode dar a impressão de estar lá para controlar, ao invés de colaborar.
Vale ainda ressaltar que, para boa parte das organizações sociais, processos de potencialização são importantes, mas o recurso financeiro é essencial. Assim, pode ser difícil esperar um grande engajamento em capacitações, se o recurso doado e/ou investido não fizer jus ao resultado desejado.
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.