Em tempos de terraplanismo e negação da ciência é importante reforçarmos o papel da academia na sociedade e, no caso específico deste artigo, para o ecossistema de negócios de impacto. Podemos refletir a relevância da academia em pelo menos três frentes.

A primeira e mais óbvia está na formação de jovens que pensem uma sociedade mais inclusiva. Essa reflexão pode ser feita em qualquer área de conhecimento e por meio do ensino de ferramentas que auxiliem os jovens a pensar sobre como podem desenvolver ideias, produtos e modelos que possam criar mais possibilidades de inclusão. Mas, principalmente, a academia deve promover o senso crítico das alunas e dos alunos para que elas e eles possam não apenas compreender com profundidade os problemas sociais e ambientais da humanidade, mas que, acima de tudo, tenham um senso de urgência e da necessidade de mudanças. Os jovens devem perceber como podem ser agentes de mudança. Para isso é importante não apenas chegar à cabeça dos jovens, mas também, ao coração de alunas e alunos. Modelos de ensino inovadores com empatia e imersão em campo podem ser um caminho para a sensibilização desses jovens.

A segunda vertente é a pesquisa. O avanço do conhecimento ocorre por meio de pesquisas que são importantes ferramentas para aprimoramento da gestão das empresas. Ainda temos muito para caminhar nesse sentido, principalmente no que concerne à realização de pesquisas que sejam efetivamente úteis e pautadas por perguntas relevantes. A academia pode ser um importante aliado do ecossistema para apontar fragilidades e possibilidades para que as empreendedoras e os empreendedores possam fazer mais e melhor.

A terceira dimensão é uma atuação direta, que pode trazer contribuições relevantes para o campo. Ela pode ocorrer por meio de mentorias, rodas de discussão, processos de aceleração ou várias outras maneiras que aproximem a academia ao campo, evitando a criação de uma dicotomia prática-teoria que não é benéfica para o ecossistema. Além de promover um impacto direto e apoiar o crescimento do ecossistema, esse tipo de iniciativa alimenta tanto o ensino como a pesquisa, pois as/os docentes têm uma visão mais vívida das problemáticas e desafios do campo.

Acredito que as três frentes podem se retroalimentar em um ciclo positivo, com uma academia mais ativa e atuante, que proporcione aulas mais engajadoras e pesquisa mais relevante. Infelizmente, o sistema de recompensas e de avaliação dos docentes não estimula essa prática integrada, focando muito no ensino-pesquisa e pouco na ação prática. Por isso, nós, professores, precisamos ter também uma veia empreendedora, além de buscar mecanismos e iniciativas que possam alavancar a conexão entre teoria e prática.

Na FGV EAESP, tentamos criar esse espaço por meio de parcerias. Por exemplo, temos parceria com a Artemisia e A Banca para a criação e o desenvolvimento da ANIP (Articuladora de Negócios de Impacto de Periferia), de modo a apoiar diretamente empreendedores sociais de periferia. Também temos parceria com Feira Preta, Afrobusiness e Diáspora.Black para desenvolver o programa Raça e Mercado, que objetiva fomentar o empreendedorismo negro. Mais do que iniciativas de atuação prática, elas geram diversos insumos para ensino e pesquisa que permitem, em seu conjunto, um avanço do campo.

Importante ressaltar também que as(os) pesquisadoras(es) e docentes precisam nessa caminhada não apenas do apoio de suas instituições, como também do próprio campo. Nesse ponto, destaca-se o trabalho do ICE, que promove a integração de diversos acadêmicos em todo o Brasil, fazendo com que a temática de negócios de impacto se prolifere e que melhores práticas possam ser compartilhadas. Iniciativas como essa que estimulem a ciência e a academia são essenciais para tirar o Brasil de um ostracismo de conhecimento e fomentar ainda mais o ecossistema de negócios de impacto.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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