Já discuti anteriormente sobre inovação e o hype no entorno da expressão. Mas, desta vez, quero dialogar sobre como a gestão por projeto pode ser uma aliada à inovação, enquanto promotora e também um campo de teste de processos, produtos e soluções para problemas importantes.
É importante pensar que uma definição possível para inovação é a resolução de problemas reais em contextos com altos níveis de incerteza. Considerando que projetos surgem para gerar valor, por meio de empreendimentos com começo, meio e fim, que entregam um resultado inédito, fica evidente a correlação possível entre inovação e gestão de projetos.
Seguindo as referências do que é hype, gostaria de usar dois conceitos para explicitar ainda mais a correlação entre gestão de projetos de impacto e inovação: “startups” e “modelo de negócio”. Considerando “startup” como um estado temporário pelo qual uma organização, seja ela social ou do mercado tradicional, busca um modelo de negócio viável e “modelo de negócio” como o modo que a organização cria, entrega e captura valor, podemos entender que uma organização que tenta solucionar um problema, passa a ter uma mini startup dentro de si.
Essa mini startup é justamente um projeto. Trata-se de uma “célula” protegida do restante da organização, na qual é possível, com alguma segurança, criar, testar e conduzir experimentos apartados da organização. E, ao final dos testes, se bem sucedido, pensar sobre como incorporar à organização.
Um exemplo sobre um projeto foi (e está) sendo usado como teste acontece na Climate Ventures, com as iniciativas para solucionar o desafio de logística e comercialização dos produtos de sociobiodiversidade da Amazônia. O desafio do Lab Amazônia diz respeito a encontrar soluções para estruturar a cadeia que possibilita que os produtos que usam ativos da floresta como insumos acessem o mercado consumidor dos grandes centros consumidores (São Paulo e Rio de Janeiro, essencialmente).
A expectativa desde o início era trazer soluções inovadoras e de baixo custo para empreendedores amazônicos venderem seus produtos no Sudeste do país. A intenção era ter um armazém geral compartilhado, onde as marcas teriam espaço para estocar produtos e fosse possível ter contêineres de navios semanais da Amazônia para São Paulo com estes produtos. Como isso não existia e por ser uma estrutura pesada, cara e de difícil implementação, se ninguém nunca tinha feito, era de se imaginar as muitas dificuldades para realizar a tarefa.
Assim, foram criados protótipos apartados das estruturas já existentes nas organizações parceiras para testar o funcionamento e a viabilidade. Estes protótipos são geridos como projetos.
A estrutura de projetos ajuda a construir o raciocínio por etapas de desenvolvimento desta ideia. É necessário, inicialmente, validar hipóteses sobre o problema que está sendo resolvido e acerca de como vai funcionar esta potencial solução. Depois, testar a solução e, então, uma vez que foi minimamente validado, o terceiro passo é entender se aquilo é um produto real, se a solução tem mercado e se captura valor de alguma maneira.
Separar por etapas facilita a compreensão dos desafios e das necessidades sobre as entregas relacionadas a cada momento. O Lab Amazônia passou por isso – e segue neste processo. A cada etapa validada e aprendizados consolidados, novos pequenos desafios são determinados na direção de consolidar o mega protótipo. Inovar não tem caminho fácil, não tem trilha ideal. Mas há maneiras menos doloridas e danosas para as estruturas que já funcionam. Fica o convite para refletirmos sobre os projetos da sua organização como um ninho propulsor de inovações.
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.