Andrey Haag, fundador da Tumulto Rec, foi o convidado do quinto episódio da série “O que não te contaram sobre impacto?“, do AupaCast.
Filho de empregada doméstica e morador de São Vicente, cidade do litoral Sul paulista, Andrey conta que sempre foi desacreditado a trabalhar com arte, apesar de sua paixão pela área. “Como vim de uma família pobre, (trabalhar com arte) não era uma possibilidade. Os concursos públicos eram a única opção, porém nunca cogitei esse caminho”, comenta. Aos 18 anos, foi expulso de casa por conta de sua homossexualidade. Privado dos estudos e com a necessidade de sobreviver batendo na porta, começou a projetar um negócio que acolhesse outras pessoas e sonhos exilados da sociedade.
A agenda LGBTQIA+ dentro do ecossistema de impacto brasileiro é recente, o que significa que ainda há desconfortos, além de poucos investimentos e estratégias desenvolvidas pelas organizações. Uma vitória é o avanço do tema nos grandes centros, porém ao observar nos territórios menores, o caminho a percorrer ainda é longo. “Na Baixada Santista ainda temos casos de pais que expulsam seus filhos LGBTQIA+ de casa ou bares e restaurantes agredindo essas pessoas. Em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras capitais vemos uma ascensão da agenda com as marcas apoiando e investindo em ações, mas isso não tem chegado ao litoral. Para fortalecer a agenda na Baixada, precisamos fomentar mais o tema, ter mais artistas representando a bandeira e desconstruir esses incômodos. Nossa 1ª Parada do Orgulho LGBTQIA+, feita há três anos, é um sinal do avanço que precisa e deve continuar aqui”, ressalta.
O negócio
A Tumulto Rec é uma produtora audiovisual que atua com produção de conteúdo para artistas LGBTQIA+ e empreendedores das periferias da Baixada Santista. O nome surgiu após uma conversa entre Andrey e seu ex-chefe. Insatisfeito com o trabalho que realizava em uma produtora de casamentos, Andrey comentou que desejava trabalhar com arte e artistas da periferia. “A resposta foi ‘você não se dá bem na vida, porque você não gosta de coisas certas (ter um trabalho formal), você gosta é de tumulto’. A partir disso, comecei a minha produtora”, lembra.
A produtora de Andrey foi selecionada pela Colaboradora, do Instituto Procomum, uma jornada de formação e vivência de práticas para empreendedores sociais, artistas e outros profissionais criativos. “Não tinha noção que possuía uma empresa e muito menos que estava gerando impacto social. Aprendi dentro da formação. Para mim, estava tentando criar uma possibilidade de realizar o meu sonho”, explica. Durante um ano, a Tumulto foi “incubada” e seu modelo de negócio e outros pontos foram estruturados.
Os clientes do negócio de impacto são empreendedores e artistas com históricos iguais e diferentes de Andrey. Todos estão ligados pelo fio condutor de “tenho um sonho e quero realizá-lo”, porém sem espaços para propagar a ideia. “Queremos contar essas histórias, cobrando um preço acessível e, às vezes, quando não é possível, não cobramos. Tenho o desejo que mais pessoas iguais a mim tenham voz e cheguem cada vez mais longe. Cansei de ser silenciado e questionado. Existem outros nessa mesma situação. A Tumulto estende a mão a eles, o ‘ninguém solta a mão de ninguém’, porque no final, dará tudo certo”, afirma.
O desafio e as soluções
Andrey ressignifica, no manifesto do seu negócio, o rótulo de “coitado” que os artistas periféricos recebem por parte da sociedade. Por outro lado, o mesmo tratamento não se aplica à classe artística das regiões de classe média. “Eles são cultos e estudiosos, nós (artistas periféricos) transmitimos uma sensação de medo? Isso está errado”, questiona. “O convite da Tumulto é reunir esses artistas e empreendedores para tumultuar, juntar nossas potências, histórias e sonhos. Mostrar que somos artistas”, acrescenta.
Com dois anos de existência, o futuro da produtora segue em construção e Andrey não esconde que tudo está sendo uma novidade para ele. “Minha vida sempre deu errado e, de dois anos para cá, começou a fluir. Estou tentando me adaptar. Ocorreram algumas situações onde estava sem lugar para comer ou morar e, por uma insistência no sonho desde criança, estou vendo a minha agenda ficar lotada e novos convites aparecendo. Estou no processo de entender o que está acontecendo”, revela.
Confira o episódio completo.
Serviço
Nome do empreendedor: Andrey Haag.
Negócio: Tumulto REC.
O que (o negócio) faz: Produtora audiovisual focada em empreendedores e artistas LGBTQIA+ das periferias da Baixada Santista.
De onde é: São Vicente (SP).
Quando começou: 2019.
Principal tema da conversa: Como insistir na sua ideia e trabalhar com os sonhos (negócios) das pessoas.
Soluções buscadas: No caso da Tumulto Rec, foi insistir no sonho e buscar formas de aprimorar as práticas e melhorar a gestão.
_______________________________________________________________