Quando discutimos negócios de impacto, um tema recorrente é a avaliação de impacto. Muitas vezes, questionamos os negócios em relação ao real impacto que eles geram e como eles podem avaliar, monitorar, comprovar esse impacto. Acredito que alguns pontos devem ser discutidos ao se pensar a avaliação de impacto.
A primeira questão é o objetivo da avaliação. Em minha opinião, o principal motivo para se realizar uma avaliação de impacto é apoiar o negócio a melhorar sua gestão e, consequentemente, otimizar seu impacto. Por isso, falamos muito mais de gestão de impacto social do que de “avaliação de impacto”. E, nesse sentido, pensar em ferramentas contínuas pode ser um diferencial relevante para ter uma visão de longo prazo.
Um segundo ponto é como criamos metodologias simples e que possam efetivamente apoiar os(as) empreendedores(as) com indicadores que sejam úteis em seu dia a dia. Nesse sentido, há técnicas como o lean data, que buscam identificar algumas perguntas-chave que possam oferecer um panorama do impacto do negócio – e que podem ser um diferencial. O lean data é uma pesquisa contínua com clientes/beneficiários do negócio que avaliam alguns itens relevantes para a organização. A pesquisa pode ser feita, por exemplo, por Whatsapp e facilita tanto a comunicação quanto a interação com os beneficiários/clientes. Tem ainda a vantagem de ser mais rápida, barata e oferecer uma visão contínua e de longo prazo.
Além disso, é importante pensar no uso de diversas metodologias. Uma frase que algumas pessoas atribuem a Albert Einstein é “Nem tudo o que pode ser contado conta e nem tudo o que conta pode ser contado”.
Em vários casos, os impactos gerados pelos negócios vão muito além de indicadores quantitativos e de métricas totalmente objetivas.
Alguns negócios proporcionam mudanças na perspectiva de vida e nas possibilidades de futuro dos beneficiários ou até mesmo das próximas gerações. Isso significa que avaliações e pesquisas qualitativas podem trazer elementos bastante relevantes para os negócios de impacto, principalmente no que concerne à identificação de potenciais de melhorias e de impactos não planejados.
Nesse sentido, entramos em outra discussão que é a avaliação também das externalidades negativas e dos limites dos negócios. Quando discutimos avaliação de impacto, em geral, avaliamos os impactos e as mudanças positivas geradas pelos negócios. Mas, muito provavelmente, grande parte dos negócios geram também distorções sociais ou ambientais. Isso não é necessariamente um problema. O argumento é como também damos luz a essas adversidades, não como forma de destacar os problemas, mas como uma busca de minimização dos impactos negativos gerados. Uma avaliação de impacto genuína e independente deve buscar os impactos positivos e as externalidades negativas dos negócios.
Isso nos leva a uma outra discussão sobre quem deve fazer a avaliação de impacto. Por vezes, os próprios negócios podem criar mecanismos de avaliação de impacto. Isso é bastante positivo, pois pode ser mais barato, rápido e coerente com as necessidades específicas do negócio. Outras vezes, a busca de parceiros externos pode ser mais atraente por trazer uma visão mais isenta e independente, além de um olhar mais técnico para a realização da avaliação. Para isso, diversos institutos de pesquisa, consultorias e universidades estão se especializando no tema.
Por fim, deve-se pensar em quando fazer a avaliação de impacto. Não adianta, para um negócio que ainda está tentando identificar sua proposta de valor, pensar na avaliação de impacto, pois ainda não está claro qual a sua teoria de mudança e qual o impacto que pode ser gerado. Assim, é importante que o negócio tenha uma certa tração para se começar uma avaliação de impacto.
Em suma, ao se pensar a avaliação de impacto, é importante pensar em algumas perguntas clássicas antes de se iniciar o processo. Porque avaliar (quais os objetivos da avaliação)? Como avaliar (qual metodologia usar)? O que avaliar (quais as métricas a serem avaliadas)? Quem fará a avaliação? Quanto custará a avaliação? E quando fazer a avaliação? Respondendo a essas perguntas, podemos começar a entender melhor o processo de avaliação de impacto.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.