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Impacto Verde: Como o Instituto IPÊ se aliou à negócios para alavancar sua atuação

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Com sede em Nazaré Paulista (SP), o Instituto de Pesquisas Ecológicas, ou Instituto IPÊ, foi fundado em 1992 e é uma das primeiras e mais relevantes iniciativas ecológicas do Brasil.  Nascido, primeiramente, como um instituto voltado à pesquisa sobre a biodiversidade da Mata Atlântica, o IPÊ ampliou sua atuação ao longo dos anos. Para além da pesquisa – por si só de impacto relevante –, o instituto logo entendeu que era preciso promover ações educativas e fomentar políticas públicas voltadas ao meio ambiente. Em uma terceira fase, foi ainda além, entendendo que deveria fomentar negócios com princípios ambientais nas comunidades onde atua, além de trabalhar em parceria com grandes marcas para promover ações pela preservação da fauna e da flora.

Segundo Andrea Travassos, coordenadora da unidade de negócios sustentáveis do IPÊ, o instituto caracteriza-se por ser socioambiental. “Temos o compromisso de olhar também para as pessoas, ver os impactos na comunidade e no meio ambiente também, por intermédio de nossas pesquisas e ações”. Em entrevista à Aupa, a coordenadora conta detalhes desta trajetória, comenta sobre como se deu essa transição para também tratar de negócios e ensina o que o instituto aprendeu ao colocar em prática suas ações ao longo desses 26 anos.

O tempo foi passando e fomos percebendo que precisávamos de outras estratégias, ferramentas e abordagens para o nosso trabalho ficar mais amplo.

AUPA  Como é olhar estes quase 30 anos de trabalho? Como vocês veem os impactos do instituto IPÊ?

ANDREA TRAVASSOS  Temos um desafio enorme pela frente. Quando para a perda da biodiversidade noticiada nos telejornais diariamente, bem como as mudanças climáticas e os eventos extremos, temos essa noção de urgência. A gente precisa fazer algo e algo precisa ser feito para o planeta. Mas, ao mesmo tempo, somos sempre muito positivos. A nossa mensagem vai na direção de que, apesar de todos os desafios, algo ainda pode ser feito. Então, é lógico que, quando a gente nasceu, éramos uma organização muito pequena, com foco principal em pesquisa para conservação da biodiversidade. O tempo foi passando e fomos percebendo que precisávamos de outras estratégias, ferramentas e abordagens para o nosso trabalho ficar mais amplo. Então, ele evoluiu da pesquisa para espécie para também a restauração de habitats, educação ambiental, envolvimento com as comunidades, além de tentar influenciar políticas públicas.

AUPA Como vocês fazem, no geral, para mensurar o impacto das ações que vocês promovem? E como fazer o ecológico gerar renda hoje? Pois ele também é um negócio, é um mercado…

AT Temos dois tipos de negócios. Há as parcerias empresariais, principalmente com marketing relacionado à causa. Alguns exemplos são os cases do Danoninho e das Havaianas, onde você tem um percentual do produto que vai ser revertido para a causa. E há também os negócios com as comunidades.  Geralmente, quando há alta biodiversidade, existem também populações mais empobrecidas. Neste caso, é preciso olhar para a aptidão que as comunidades têm para produzir algo ou um serviço e para que isso tenha qualidade, consiga chegar ao mercado e possa gerar renda para que essa família continue nesse local, batalhando pela conservação.

AUPA E tem alguma concentração destes negócios com a comunidades que atuam, uma região específica?

AT Em todos os lugares onde o IPÊ atua estamos olhando para este potencial. Em Nazaré Paulista, a gente trabalha o bordado, com um grupo chamado Costurando o Futuro. As mulheres deste grupo produzem camisetas para crianças e adultos com imagens ou com desenhos que remetem à Mata Atlântica. No Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do estado de São Paulo, que é onde o IPÊ nasceu, há o Café com Floresta. Além disso, há também a Pura Bucha (buchas agroflorestais). Já no Norte, há o artesanato em madeira. Então, são várias iniciativas que você vai olhando para o potencial da comunidade e de que maneira ela pode ganhar dinheiro com aquilo.

é preciso olhar para a aptidão que as comunidades têm para produzir algo ou um serviço e para que isso tenha qualidade, consiga chegar ao mercado e possa gerar renda

AUPA O case das Havaianas é o mais global que vocês trabalharam. Você pode falar um pouquinho sobre ele e os números de impacto também?

AT [O case da] Havaianas surgiu da necessidade de a gente divulgar a rica biodiversidade brasileira e, neste caso, o produto em si já é um excelente produto de comunicação e divulgação. Você tem 200 milhões de pares que são vendidos no Brasil e no mundo. Havaianas está no pé do mais pobre até no do mais rico. A ideia era de que a sandália levasse a imagem e a informação acerca da biodiversidade brasileira para a população. E, à medida que o consumidor faz a opção por aquela coleção, 7% do lucro é revertido para o IPÊ. Hoje temos, mais ou menos, 14 milhões de pares vendidos nestes 14 anos de parceria entre a Havaianas e o IPÊ. Isso é, mais ou menos, um milhão de pares vendidos, anualmente. Teve ano que vendeu mais, teve ano que vendeu menos, mas os anos que venderam mais compensam os anos que venderam menos. Neste 14 milhões de pares, há 7,5 milhões de recursos revertidos para a causa. É bastante.

Queremos que, de alguma maneira, isso possa gerar frutos na sociedade, levar à reflexão, à mudança das práticas e a implementação de novas ideias, estratégias e ações.

AUPA Como é o caso da parceria com o Danoninho, por exemplo, em que a criança poderia ter sua floresta virtual e, depois, isso virava uma ação de reflorestamento.

AT Nós fomos procurados pela Danone, pois eles têm o Danoninho Ice (que é um produto sazonal, que pode ser encontrado no mercado durante o verão). Há também carro-chefe, que é o Danoninho em si (esse você vai encontrar na prateleira em qualquer época do ano). E a Danone precisava de um produto mais para o inverno, que fizesse essa contraposição com o Danoninho Ice. Eles estavam olhando um pouco para a essa necessidade de levar algum tipo de informação para as crianças. Porque, apesar de ser a mãe quem escolhe o produto para a criança, eles sabem que a criança tem uma certa influência nessa decisão. Uma consumidora, que hoje é uma médica, mandou uma foto pra Danone, mostrando que, quando era criança, ela fez aquele experimento de plantar a sementinha no potinho de Danoninho. A semente virou uma árvore, que hoje tem cinco vezes o tamanho da médica, segundo a foto. A partir daí, o marketing da Danone teve a ideia de reproduzir essa experiência em larga escala. Então, quando a pessoa comprasse a bandeja de Danoninho, ela também estaria levando junto um saquinho com sementes. O enfoque eram algumas espécies que conseguissem se manter produtivas, mesmo depois de ter passado pela câmara frigorifica. Mas a empresa achou que só poder fazer isso era pouco. Então, o plano foi se unir ao IPÊ e assim dar oferecer a possibilidade ao consumidor de plantar árvores virtuais na Floresta do Dino, o mascote da Danone. Na medida em que o consumidor plantava uma árvore virtual, a Danone se responsabilizava pelo plantio de um m² de Mata Atlântica. Foi uma experiência bem legal, a gente conseguiu plantar 42 hectares de floresta – que é o equivalente a 84 mil árvores, mais ou menos. É um número bastante significativo, mas vale lembrar que a gente precisa de muito mais.

AUPA E dentro das ações que já promovidas pelo IPÊ há alguma política pública que vocês já conseguiram emplacar?

AT  Há várias que a gente, na verdade, está ajudando para que aconteçam. Por exemplo, todos os anos de pesquisa do IPÊ no Pontal do Paranapanema, o projeto de restauração florestal com Movimento dos Sem-Terra ou mesmo com as espécies de lá, como é o caso do mico-leão preto. Todas essas informações facilitaram o processo de criação da ação ecológica mico-leão preto [o nome do projeto é Programa de Conservação do Mico Leão Preto, iniciado em 1984]. Hoje a gente está muito envolvido nessa questão também das antas do pantanal, porque a anta é um grande mamífero terrestre, enorme dispersor de sementes [por isso ela é considerada a jardineira da floresta]. Mas a anta é uma espécie que está sofrendo muito com atropelamento. Então, hoje a gente tem conversação com o Ministério Público sobre de que maneira a conseguimos evitar isso. Porque é preciso pensar num planejamento melhor para as estradas, em túneis de passagem. Ou seja, estamos o tempo todo tentando usar as informações, que a gente produz através de pesquisa, para de alguma maneira tentar mudar uma situação que não é ideal.

AUPA É correto, então, afirmar que o IPÊ também é um think tank, um centro de pesquisa totalmente voltado para essas questões da sociedade mesmo…?

AT Realmente, era o nosso sonho. O plano é usar as ideias daqui, que são de vanguarda, muitas vezes, porque é um centro de pesquisa em conservação da biodiversidade. Queremos que, de alguma maneira, isso possa gerar frutos na sociedade, levar à reflexão, à mudança das práticas e a implementação de novas ideias, estratégias e ações.

AUPA Vocês acabam se diferenciando, porque as pessoas têm muita distancia com relação à pesquisa.   E vocês fazem muita questão desse diálogo, de mostrar para as pessoas que a pesquisa também está no nosso dia a dia.

AT É porque não acreditamos em pesquisa que vai ficar na prateleira. O nosso lema também foi pesquisa-ação, então aqui a ideia não é produzir um estudo ou um levantamento que vai ser levado para um órgão para que outro faça a ação.  Você levou o diagnóstico e alguém vai fazer a sua ação. Não! Qual é a questão? Qual é o desafio e de que maneira eu posso atuar para inibir este desafio ou para vencer este desafio?

O nosso lema também foi pesquisa-ação, então aqui a ideia não é produzir um estudo ou um levantamento que vai ser levado para um órgão para que outro faça a ação.

AUPA Você bem lembrou a questão de Nazaré Paulista, que é uma cidade estratégica para o estado de São Paulo por conta do sistema Cantareira de represas. Há toda a questão da água e que é um problema para o estado nos últimos anos. Qual é o impacto que você consegue perceber do antes e do depois do IPÊ aí na região?

AT  A gente tem a escola e vários dos trabalhos de conclusão destes alunos tem a região como foco. Isso já é uma grande contribuição. Além disso, a gente a plantou na região do Cantareira 300 mil árvores, em parcerias com outras empresas e outras pessoas e organizações. A gente tem um programa amplo de educação ambiental, que atende todas as crianças da rede pública do município. A gente tem o Viver Escola, que produz cerca de 40 mil mudas por ano e este viveiro, além de produzir as espécies nativas, que são usadas na nossa restauração florestal, elas também servem como um espaço educativo para as crianças da escola pública. A gente tem essa interface e há também o acesso direto aos educadores, trabalhando muito com eles os conceitos e as melhores maneiras deles trabalharem estes conteúdos em sala de aula. E temos também projetos de geração de renda, como Costurando o Futuro. São inúmeras frentes que estão atuando aqui em Nazaré e região.

O que grandes empresas podem experimentar com Negócios de Impacto Socioambiental

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As empresas deveriam ter como foco endereçar necessidades concretas da sociedade e do planeta? Essa pergunta reflete uma questão norteadora do nosso trabalho e estudos no Sense-Lab.

Mesmo vindo de setores mais tradicionais da economia, as questões sociais e ambientais sempre me preocuparam. Ainda estudando engenharia na USP, eu lia muitos livros e artigos sobre mudanças climáticas, excesso de uso de recursos e desigualdade. A partir dessas leituras, eu me questionava quais os limites da nossa ação coletiva e quem de fato se ocupa em endereçar esses desafios, tão fundamentais e cada vez mais urgentes para a nossa sobrevivência como civilização.

Já dentro de uma grande corporação e, posteriormente, como sócio de uma empresa de médio porte, o papel das empresas começou a se tornar central nessas reflexões. Será que negócios são só negócios ou eles têm um papel maior na nossa atuação coletiva?

Empreendi o Sense-Lab há 4 anos com foco nestes questionamentos.

O ponto de inicio, naturalmente, foi o campo de Negócios de Impacto Socioambiental. Percebi que todo um ecossistema, incluindo startups, fundos de investimento, aceleradoras, institutos e fundações, governo e academia, já se estruturava em torno dessa nova lógica. Uma proposta que alia impacto socioambiental positivo e resultado financeiro. Este campo vem acumulando uma série de vitórias e enfrentando também diversas barreiras para se viabilizar como alternativa para os negócios convencionais.

O crescimento no campo é vertiginoso e atrai da atenção de atores relevantes de diferentes setores, incluindo o governo federal. Porém, o fato é que o chamado Setor 2.5 segue sendo uma bolha onde todos se conhecem e que ainda tem penetração limitada no mainstream econômico.

Ao mesmo tempo, é cada vez mais claro para os atores do segundo setor, e as grandes empresas em especial, que o custo de não agir para resolver questões que afetam todo o planeta é alto. Observamos diversos movimentos que buscam integrar a lógica de impacto socioambiental também ao modelo de negócios dessas organizações.

A pergunta que emerge é: Onde que esses movimentos convergem? Quais são o papel e os limites dos Negócios de Impacto? Entendo que grandes empresas, em geral, não vão se tornar Negócios de Impacto da forma como convencionamos defini-los. Porém, o campo de Negócios de Impacto já́ vem experimentado uma nova lógica há mais de uma década e oferece um amplo terreno de oportunidades para troca e colaboração para acelerar esta agenda também nas grandes empresas.

Temos aí uma opção robusta e em pleno andamento para experimentar o futuro. As grandes empresas têm uma oportunidade de ouro para observar, interagir e aprender com atores que têm menos a perder e mais disponibilidade em testar novas formas de jogar o jogo. Está na hora de elas abraçarem essa oportunidade.

Blended Finance: fontes mistas de investimento alavancam Programa Vivenda

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Realizar 800 reformas em quase quatro anos de atividade é um feito e tanto. Ainda mais para uma startup, como é o caso do Programa Vivenda. E ainda mais quando o público-alvo do negócio são pessoas da classe D, cuja renda não lhes permite financiar o reparo de uma casa pagando parcelas maiores do que R$ 200 ao mês.

Mais que um feito, é uma façanha: centenas de reformas feitas em favelas de São Paulo a um custo médio de R$ 5 mil cada uma, parceladas em até 30 vezes. Trocando em miúdos: “Você entrega a reforma em 7 dias, mas só recebe em 30 meses”, resume Marco Gorini, cofundador da Din4mo, consultora parceira do Vivenda. “Existe aí um problema gravíssimo de capital de giro.”

A construção de um novo modelo

Entre maio de 2014, mês das primeiras obras, e fim de 2017, esse foi o desafio essencial dessa que é a mais relevante empresa de habitação no cenário dos negócios de impacto social no Brasil. “Operávamos sem ter um modelo de financiamento estruturado”, diz Fernando Assad, sócio-fundador do Programa Vivenda.

Várias foram as fontes usadas para manter o negócio de pé. Basicamente uma combinação de crowdequity, modelo que permite que vários pequenos investidores apliquem no negócio, e empréstimos bancários, tanto para pessoa física quanto para jurídica.

O problema era na hora de ganhar escala, pois se esbarrava na já conhecida desconfiança dos investidores. “Falamos com os cinco principais bancos e o argumento era sempre o mesmo: diziam que faltava literatura de crédito para avaliar o comportamento do cliente”, lembra Fernando.

“Risco” é quase sempre a palavra que ressoa nas entrelinhas quando investidores ouvem falar de negócios de impacto social. Ciente disso, Vivenda e Din4mo, parceiros desde 2016, pensaram em uma solução que gerasse confiança no mercado de capitais. “Já que o financiamento não viria pelos bancos, precisaremos buscá-lo diretamente com os investidores”, pensou Marco, da Din4mo. O projeto contou com o apoio decisivo, também, do Fundo Zona Leste e da parceira com o Grupo Gaia.

Foi quando a securitizadora Gaia entrou na história e as três empresas, juntas, desenvolveram a primeira experiência de blended finance de impacto social no Brasil.

O que é Blended Finance?

Na falta de tradução melhor, pode-se dizer que o blended finance é uma forma de financiamento misto que combina capital de fundos filantrópicos com o de investidores tradicionais – os primeiros, atuando como uma espécie de mecanismo de segurança para minimizar os riscos que o segundo poderia estar sujeito.

Na prática: “foi emitida uma debênture em duas séries, uma que chamamos de ‘mezanino’, através de uma oferta privada, e outra de ‘sênior’. Esta última através de uma oferta restrita, regulada pela instrução 476 da CVM [Comissão de Valores Imobiliários]”, explica Marco.

Em linhas gerais, debênture nada mais é que um valor emitido por empresas e que garantem um retorno, em juros, ao investidor. É um instrumento de captação de recursos comum para que empresas financiem seus projetos.

A primeira série, equivalente a 40% do total captado, vem de investidores filantrópicos. É a série de maior risco, aquela que sofrerá as primeiras perdas no caso de inadimplência. Já a série ‘sênior’ é toda ela distribuída para investidores do Itaú Private Banking. Esta última é a dos investidores tradicionais, atraídos pela segurança decorrente da presença de títulos financeiros do ‘mezanino’, aqueles dos investidores filantrópicos. Somando-se os recursos, o total captado alcançou a cifra de R$ 5 milhões, que ficaram sob a responsabilidade da Gaia.

E o que mudou para o Programa Vivenda?

Desde janeiro de 2018 as operações do Vivenda agora funcionam assim: ao fim de cada mês, a empresa faz a cessão dos contratos de financiamento assinados com as famílias e recebe da Gaia, à vista, os recursos necessários para o cumprimento das reformas fechados naquele período.

Cada uma daquelas reformas de R$ 5 mil agora podem ser feitas com total segurança de caixa. Quem se ocupa de receber e gerenciar as parcelas de financiamento dos clientes é a securitizadora. Com isso, o Vivenda livre para proporcionar moradias mais dignas e em melhores condições de salubridade a de famílias de baixa renda.

Mais do que apenas uma garantia de estabilidade financeira à startup, as debêntures sociais são também uma maneira de alavancar o negócio e o impacto social. Os títulos foram emitidos para um prazo de 10 anos, mas os investidores só receberão sua parte a partir do sexto ano, ou seja, 2023.

Até lá, o capital permanecerá sendo reinvestido na própria operação, multiplicando por oito poder de fogo desses títulos: “A gente faz esses 5 milhões virarem 40 milhões”, resume Fernando. O que foi, por sinal, também um forte argumento para atrair o investidor filantrópico, com explica Marco, da Din4mo: “se esses R$ 2 milhões  captados na cota mezanino fossem para doação, conseguiríamos fazer 400 reformas. Com esse novo modelo, conseguiremos fazer 8 mil reformas no período.”

A expectativa do Vivenda para os próximos cinco anos agora é multiplicar por dez o total de obras feitas nos últimos quatro, o que resultará em mais de 30 mil pessoas beneficiadas. Com isso, Fernando Assad espera que os investidores finalmente entendam que um negócio de impacto social pode ser, sim, com o perdão do trocadilho, um bom negócio.

A experiência com as debêntures sociais tem só 6 meses de atividade, mas já permitiu a realização de 200 reformas nesse período, além do equilíbrio das contas das duas lojas do Vivenda na periferia de São Paulo. Um modelo que pode, inclusive, inspirar empresas de outros segmentos, como saúde e educação.

Criando um paradigma

Fernando acredita que o momento é dos mais propícios: “antes o investidor olhava para o retorno do investimento. Hoje ele avalia o risco. Agora está surgindo uma nova variável, que é o impacto que ele causa”. Se ainda há alguma desconfiança, como é usual em tudo o que se refere a negócios inovadores, aí está o blended finance como uma solução que pode deixar mais seguros os investidores tradicionais.

Há outras, e outras surgirão, mas é fato que o interesse por negócios que ajudam a transformar o mundo em um lugar melhor está crescendo. “Já estamos ouvindo que há uma demanda por esse tipo de investimento e os bancos não têm o que oferecer”, diz Fernando. “Essa é a literatura que nós estamos criando.”

Estão abertas inscrições para o programa Liderança Sistêmica, do Sense-Lab

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Estão abertas as inscrições para o programa Liderança Sistêmica, desenvolvido e aplicado pelo Sense-Lab. O primeiro módulo ocorrerá no dia 24 de agosto, das 9h às 18h.
Liderança Sistêmica é um programa que explora modelos organizacionais e sociais emergentes das novas demandas e realidades nascentes. O objetivo é apresentar e discutir de forma dinâmica novas abordagens empresariais, modelos de organização e sistemas sociais e econômicos que redefinirão a forma como se vive e trabalha.
O Módulo Introdutório do programa traz perspectivas sobre movimentos e disrupções na economia, como o próprio movimento dos Negócios de Impacto, bem como os negócios exponenciais, organizações evolutivas, capitalismo consciente e empresas B.
Para saber sobre valores e mais informações, acesse www.liderancasistemica.com.
O Sense-Lab é um laboratório de inovação com foco em formar e desenvolver nas organizações e entre profissionais novos sistemas de liderança e de governança. Entre seus eixos de atuação, o Sense-Lab com processos e cultura de inovação também no campo de negócios de impacto.
O laboratório também oferece um programa de Liderança Sistêmica para companhias, voltado para empresas que buscam levar essa temática para dentro de suas corporações. Basta entrar em contato para personalizar o programa de acordo com as necessidades da empresa pelo e-mail lideranca@sense-lab.com

Manual orienta grandes empresas a atuar com negócios de impacto

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No Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, o Sense-Lab anunciou em parceria com o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) o lançamento do Manual Oportunidades para Grandes Empresas: Repensando a forma de fazer negócio e resolver problemas sociais. A publicação é direcionada a líderes em grandes empresas, com propostas e orientações para atuar no campo de negócios de impacto.

Este é o resultado de discussões sobre como engajar empresas grandes no campo de investimentos em negócios de impacto. Em junho de 2017, a convite da Força Tarefa de Finanças Sociais e com o apoio da Aoka Labs, 40 organizações se reuniram para um laboratório em inovação social. A publicação é fruto dessas discussões, nas quais foi consenso a necessidade da participação de corporações para impulsionar o ecossistema de impacto.

O manual explica o que são negócios de impacto, mas também discute e apresenta modos de incluí-los como parte integral do modelo de negócios de grandes empresa. Para isso, a publicação trata de desafios e oportunidades, internos e externos, e estratégias para gerar impacto socioambiental positivo nas cadeias e processos que já fazem parte do modelo de negócio dessas empresas.

Conforme foi debatido no próprio Fórum de Finanças Sociais, o desafio é retirar a questão do impacto socioambiental de seu lugar periférico nas grandes empresas, destinado aos setores de responsabilidade social. O manual e outras ações no campo visam trazer essas preocupações e responsabilidades para o chamado core business das empresas — isto é, para dentro das cadeias de produção.

Além de Sense-Lab e ICE, a publicação é um esforço conjunto de pessoas em diversas organizações, como Derraik & Menezes, PwC, Mattos Filhos, Nestlé e Kymberly-Clark. É possível dar download gratuito no material neste link.

Edição 2018 do Festival Social Good Brasil discute tecnologia e inovação social

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Entre os dias 31 de agosto e 01 de setembro, inspirado pelo sucesso das ultimas edições, o Festival Social Good Brasil deste ano, com o tema “Na era das tecnologias exponenciais, o que é ser humano?”

O Festival SGB é o encontro anual do Social Good Brasil, organização que promove e fomenta o desenvolvimento tecnológico voltado à inovação social. Também é o líder do movimento Data for Good no Brasil O evento reúne sua comunidade e atores do campo para troca de conhecimentos, experimentações e inspirações.

Em 2017, os números oficiais asseguram que um total de 47 mil pessoas interagiu com o evento. Deste total, 90% se inspiraram a agir pelo social, e 60% realizaram conexões importantes. Já são mais de 8 milhões de pessoas impactadas direta ou indiretamente pelas ações e proposições do Festival SGB.

Para a criação de metodologias de ponta, o SGB se uniu a especialistas e empresas que atuam com inteligência analítica no âmbito corporativo, como Dierê Fernandez, Leandro Devegili e Andrew Means, líder do movimento Data for Good nos EUA.

O evento convida empresas, institutos e fundações empresariais que atuam com investimento social privado que buscam por inteligência para começar a lidar com dados aliados à teoria da mudança. Também é direcionado à negócios de impacto em crescimento que querem aprender a lidar com dados para analisar suas performances.

A edição do Festival SGB deste ano ocorre entre 31 de agosto e primeiro de setembro, em Florianópolis, no Centro de Inovação ACATE – Primavera. As incrições estão abertas e podem ser feitas aqui. Os organizadores sugerem uma doação, de valor não fixado, para o ato da inscrição. Quem tiver interesse também pode propor atividades por este link.

 

Fim da filantropia? Negócios de impacto também influenciam o terceiro setor

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Os negócios de impacto socioambiental vêm ganhando espaço no setor das ONGs como uma fonte alternativa de financiamento. O contato entre os campos parece, a primeira vista, incompatível. Enquanto o campo de impacto aplica modelos de negócio e pode visar lucro com suas atividades, a filantropia, tradicionalmente, não compreende atuação no mercado.

Todavia, nos últimos anos, zonas de encontro entre essas partes tem sido encorajadas, como destacou, por exemplo, José Marcelo Zacchi, em entrevista para a Aupa. Com isso, o setor já acompanha cases em que o investimento social privado tem encorajado novos negócios de impacto, seja em ONGs, mas também em Institutos e Fundações.

Apresentado no último Fórum de Finanças Sociais, a iniciativa Housingpact, do Instituto InterCement, é um exemplo de programa que potencializa negócios de impacto — no caso, ligados à moradia — no seio de um instituto tradicionalmente ligado ao terceiro setor.

Com essa aproximação, a pergunta no setor de finanças sociais fica no ar: seria o fim da Filantropia? Ou o início de uma mudança em suas formas de organização e captação de recursos?

Negócios de impacto como (mais uma) estratégia

Gabriel Menezes, presidente do Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental, entende que o empreendedor social é aquele que se mobiliza por uma causa e atua, na maioria das vezes, sem finalidade de lucro. “A questão é que algumas ONGs, por falta de conhecimento ou preconceito com o termo empreendedorismo, restringem-se somente a convênios com poder público e doações de empresas ou pessoas físicas, o que pode refletir em planos de sustentabilidades fracos”, acredita.

Segundo o empreendedor, para financiar uma atuação como a de muitas ONGs, não se deve por todos os ovos numa única cesta, no caso, doações, convênios ou venda de bens e serviços. Para Menezes, é preciso captar recursos de fontes diversas para fortalecer a organização e impactar em sua causa.

“O Terceiro Setor é o que tem a maior possibilidade de formas diferentes de captação de recursos. Normalmente, porém, é o que tem o menor volume de recurso em termos gerais”, lembra Gabriel Menezes.

Ele explica que a proposta de atuar com empreendedorismo socioambiental pode servir para ampliar a autonomia e autossustentação das organizações, indo além da estratégia da maioria das ONGs de receber recursos apenas de governos e fundações privadas.

“Temos dois problemas nesse modelo tradicional da filantropia. O primeiro é que geralmente se trabalha muito mais pelo que o financiador idealiza do que por algo que se acredita”, comenta Menezes. “Além disso, esses financiamentos têm tempo de duração. Quando ele acaba, acaba o projeto, o trabalho, a equipe, o relacionamento com os parceiros, na verdade, é necessário ir atrás de outros editais para financiamentos.”

Como é atuar pelas duas frentes?

De acordo com Alex Siebel (foto acima), a filantropia apresenta certas vantagens em relação ao business no sentido de poder receber doações e ter fontes de recursos que não possuem carga tributária. Uma desvantagem, porém, é a recorrência desses recursos, que geralmente é pontual, sem uma duração permanente.

Siebel conhece bem os dois lados da moeda. Ele trabalha na ONG ARCAH, que resgata a cidadania de pessoas em situação de rua de forma integrada com a natureza. Também é sócio-fundador do negócio social POSITIV.A, que comercializa produtos e serviços baseados na economia circular e com apoio da agricultura familiar. A POSITIV.A funciona no modelo de Empresa B, uma organização que certifica empresas e busca usar a força do mercado para solucionar problemas sociais e ambientais.

“O ecossistema de filantropia das ONGs tende a diminuir enquanto os negócios sociais tendem a aumentar”, diz Alex. Ele acredita que negócios sociais podem sim substituir algumas ONGs. Porém, para ele há certos problemas sociais que dificilmente poderão ser solucionados a partir de negócios assim. Seria o caso da população em situação de rua com que trabalha a ARCAH. A organização, porém, mesmo dependendo da filantropia, vem desenvolvendo negócios sociais, que podem se tornar fonte importante de recursos no futuro. “Acho que podem existir modelos híbridos de fontes de recursos, ou seja, com negócios sociais funcionando dentro de ONGs”, considera.

É ONG ou não é?

O Instituto Auá é um caso emblemático desse modelo híbrido. A partir de 2013, começou um processo de transição, fincando os pés no empreendedorismo socioambiental e estimulando outros empreendedores.

Surgida em 1999 com o nome de Associação Holística de Participação Comunitária e Ecológica, a instituição mudou de nome dentro da nova estratégia. “Quando o instituto começa a trabalhar com empreendedorismo, não deixa de ser ONG. Inclusive, a ONG tem o mesmo CNPJ”, explica Gabriel Menezes, presidente do Instituto. “O que se conseguimos foi diversificar nossas fontes de receita e garantir sustentabilidade para ações ligadas às causas que defendemos.”

Menezes diz acreditar na proposta do economista e Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus. O indiano é o criador do conceito de empreendimentos sociais que atuam com causa e com plano de negócios, mas sem fins lucrativos. Logo, algo diferente do que se tem defendido com o uso da termo negócios de impacto, que preveem o lucro (entenda a diferença aqui).

No Instituto Auá, quem trabalha é remunerado com valor de mercado, mas não há divisão de lucros. Todo excedente é reinvestido no negócio para gerar mais impacto. “Às vezes, o negócio tem proposta social, mas a finalidade é o lucro dos donos da empresa. Esse tipo posicionamento pode vir a gerar conflito na disputa entre propósito e lucro”, pondera. Hoje, o Instituto atua com projetos com o objetivo central de proteger e recuperar a Mata Atlântica.

Segundo o empreendedor, é possível transformar a realidade graças às mudanças no perfil de consumo — o que abre portas para os negócios sociais e negócios de impacto. “Acredito que a mudança no século 21 está na mão do consumidor. É uma revolução silenciosa e pacífica, mas efetiva. Na hora que decide o que fazer com o dinheiro, se gastá-lo com coisas sustentáveis, teremos uma civilização sustentável”, sonha Menezes.

Inovações no modelo de apoio e captação de recursos para negócios de impacto

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É muito comum ouvir por aí que empreender não é tarefa fácil. Empreender um negócio de impacto social, então, é mais desafiador ainda. E de fato é. Para além de uma equipe brilhante, de uma solução capaz de resolver problemas sociais em larga escala e de chegar a quem mais precisa, o negócio de impacto social ou ambiental tem o grande desafio de atrair capital de alto risco.

A diferença é que quando um negócio tradicional está captando, ele precisa mostrar ao potencial investidor como alcançará resultados financeiros, ao passo que o empreendedor de impacto deve projetar ganhos financeiros e sociais. Tarefa árdua e cheia de desafios. Porque primeiro o empreendedor precisa ter clareza a respeito da mudança que pretende gerar. Segundo, precisa demonstrar como vai trilhar esse caminho. E, terceiro, porque ainda deve gastar um tempo significativo engajando investidores, que naturalmente são mais orientados a resultados financeiros.

É bem verdade também que empreendedores em estágios muito iniciais nem deveriam voltar esforços para atrair investidores, e se o fizerem podem estar queimando cartuchos antes da hora. Nessa fase é recomendável que empreendedores invistam dinheiro do próprio bolso, ou da família, amigos e “tolos” que acreditam no potencial de seu projeto (o famoso FFF, que na sigla em inglês quer dizer: family, friends and fools).

Em 2017, a Pipe Social, junto com várias organizações do setor, realizou um mapeamento de negócios sociais e ambientais e chegou a 549 empresas. Os dados mostram que 79% dos negócios de impacto estão captando investimento. Desse número, 38% captam até R$ 200 mil, 33% de R$ 200 mil a R$ 1 milhão e 23% mais de R$ 1 milhão. Ou seja, muitos negócios estão captando pouco. Do outro lado, a Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) fez um estudo em 2016 e mostrou que há US$ 186 milhões disponíveis para serem investidos no país.

Duas questões para mim são cruciais: 1. como preparar empreendedores (e aqui digo preparar não só os belos discursos), capacitar as pessoas e o negócio para alcançar o impacto que se propõem por meio de modelos inovadores de monetização e que convençam investidores; 2. como criar mecanismos inovadores de financiamento ou investimento para diferentes fases do negócio.

Nessa linha, uma experiência me chamou a atenção recentemente. Trata-se do Programa Sponsorship, da aceleradora Quintessa. Ao invés de conectar empreendedores a investidores somente ao final da aceleração, a Quintessa divide o processo em duas fases. A primeira é focada no desenvolvimento do negócio e a segunda voltada à captação de investimento.

O diferencial é o que o investidor participa do processo de desenvolvimento, conhece bem o plano de negócios e depois avalia se vai ou não aplicar recursos. Neste ano, a Quintessa vai selecionar quatro startups de impacto e o valor previsto para alocação em cada está entre R$ 100 mil e R$ 400 mil.

Nos próximos artigos, vou trazer outros exemplos de mecanismos inovadores de investimento que estão sendo testados no Brasil e em outros países. Iniciativas que estão buscando diversificação para atender as demandas do ecossistema de impacto.

Encontro debate empreendedorismo social em educação no Brasil

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Nesta sexta-feira, 15 de junho, acontecerá no Google Campus, em São Paulo, o segundo dia de discussões da Central Sudeste da Brazil Conference, organizada pelas universidades americanas Harvard e MIT.

O tema desta sexta-feira será Empreendedorismo Social e Educação como ferramentas para superar as desigualdades sociais. Participarão do painel Erica Butow, presidente da Ensina Brasil; Gustavo Fuga, da 4YOU2 IdiomasDouglas Belchior, da UNEafro Brasil; e Ana Carolina Martins, da Visionários da Quebrada.

O Google Campus fica na Rua Coronel Oscar Porto, n. 70, em São Paulo. A participação no evento é gratuita e as inscrições podem ser feitas neste link.

Como grandes corporações podem cooperar com o ecossitema de impacto?

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O ecossistema de impacto socioambiental tem se tornado pauta também em grandes empresas, que vêem no segmento oportunidades de inovação em modelos de negócio e em formas de sustentar seus braços de responsabilidade social. Esta é a conclusão que ficou de um dos encontros do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, realizado nos dias 6 e 7 de junho, em São Paulo.

Mudança de Cultura

Com o tema Grandes Empresas, uma série de painéis do Fórum tentou dar conta de como a ponte entre o campo e corporações tradicionais pode ocorrer. Para Andreas Ufer, sócio-fundador da Sense Lab e um dos integrantes dos painéis, o começo da mudança de mentalidade destas empresas poderá vir de suas próprias equipes.

“A busca de propósito da juventude e a crise de governança  vieram como fator que influencia o ambiente de negócios. E a gente sente que o interesse das grandes empresas tem crescido nessa temática. São jovens adultos que saem das corporações para buscar propósito, e encontram o setor de impacto”, comentou Andreas. “Uma dor nossa é que não existem muitos canais de oportunidade para as pessoas do campo. Existe uma oportunidade de empresas em se conectar com isso e atrair grandes talentos.”

A professora e pesquisadora Graziella Comini, da FEA-USP, deu um relato semelhante ao comentar sobre a demanda de alunos por conhecimentos do setor. “A pressão na academia por impacto vem muito mais dos estudantes, dos jovens. O problema  é a absorção dessas pessoas”, contou Comini. “O jovem encontra startups, mas não encontra grandes corporações. Os alunos não acham que o engajamento social pode ser um tema transversal nas empresas. Na medida que não se identificar isso, haverá uma vazão desse jovem.”

Todavia, Comini também destaca a importância de uma orientação verticalizada na consolidação desse movimento em uma empresa. “Deve haver um comprometimento da liderança. De baixo pode vir pessoas que abracem. Mas a alta liderança nas empresas precisa ver formas de mesclar resultados financeiros com resultados sociais no seu core business. Esse valor pode vir de cima para baixo. Se for jogado para uma área separada, estará condenado a uma condição periférica”, concluiu.

O desafio de vender impacto

Engendrar impacto social no core business das empresas ainda é grande desafio. Isto é, fazer com que o impacto possa gerar valor e retorno financeiro nos principais negócios das corporações. Para Luciano Gurgel, da diretor da Yunus Brasil.

“O CEO da [investidora americana] BlackRock, Larry Fink, orientou em carta a outros CEOs dizendo que as empresas que não tivessem um âmbito de impacto social no seus negócios, deixariam de ser investidas pela BlackRock“, recorda Gurgel. “O investidor começou a contextualizar de maneira um pouco diferente o que compõe o retorno. Há uma força que move os negócios para entenderem qual o seu papel de verdade, um papel mais importante e significativo na sociedade.”

Aprendendo na prática

Os painéis também trouxeram alguns cases de empresas, grandes e tradicionais, que estão implementando em seus negócios centrais modelos que engendrem impacto social ou ambiental. Estiveram lá André Schaeffer, da InterCement; Denise Hills, do Itaú, e Luciana Vila Nova, da Natura.

Denise compartilhou um pouco da experiência do Itaú com o segmento de impacto. “Falar de um banco é falar de como considerar o impacto na forma como eu concedo crédito e investimento em todas as atividades bancárias”, explicou Denise. “Ao conceder um crédito a uma empresa eu procuro entender se ela tem a sensibilidade de entender que a atividade dela causa impacto social, e o seu crescimento depende dessa clareza. Isso já é prática. O impacto não é opcional. Hoje, se você não gere esse impacto, provavelmente irá causar e será uma vitima circunstancial dele, o que é ruim.”

Nesse sentido, os negócios de impacto aparecem como uma oportunidade, mas é preciso “educar o investidor” para esse campo. “Negócios de impacto já nascem com essa mentalidade. O impacto não é opcional, o que eu preciso é pensar nele como modelo de negócio”, esclarece Denise. “E nem tudo que é importante é monetizável. Todo dinheiro de longo prazo pensa em mais tranquilidade sobre isso, você refletir que o retorno pode vir de uma nova economia é uma coisa interessante de fazer. Não tem nenhuma razão para um bom negócio não gerar um bom impacto. E um negócio que deixa impacto negativo, não será um bom negócio.”

Já na InterCement, André descreveu para o auditório como a atuação do Instituto foi sendo incorporado nos negócios da empresa. A InterCement é uma holding criada pela Camargo Corrêa para fornecimento de cimento na construção civil. “Fazer cimento é basicamente jogar gás carbônico na atmosfera. A gente sabe desse impacto”, confessou André.

Ao longo de 10 anos, o instituto vem na atuação de alinhar as preocupações sociais e ambientais aos da empresa, e deixar de “passar o chapéu”, segundo André. Para isso, identificou-se oportunidades em toda a cadeia de cimento. Por exemplo, fomentou a produção de alimentos nas cidades onde há fábricas, para alimentar seus funcionários. “Estamos caminhando para um lugar em que não seja necessário ter mais instituto. Que esse viés esteja em toda cadeia. O alinhamento com o negócio é a coisa mais importante que tem para fazer isso de um jeito mais fácil”, argumentou.

A InterCement também anunciou o lançamento da iniciativa Housingpact, que atuará na busca de soluções para questões de moradia em toda a cadeia, fomentando novos negócios de impacto. A Aupa está de olho na iniciativa e trará uma reportagem especial detalhando sobre este projeto.

 

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