Em 2020, o Pacto Global da ONU, maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, teve recorde de inscrições de empresas brasileiras, com alta de 25%. Foram mais de 250 novas signatárias – a ponteAponte entre elas – do Pacto, que conta agora com mais de 1.100 empresas brasileiras.
Lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global é uma chamada para as empresas alinharem, voluntariamente, suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e contribuírem para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS.
Na teoria, tudo lindo, afinal quanto mais empresas assumirem publicamente esses compromissos melhor. Já na prática… O que cada empresa ou organização está de fato fazendo para alcançarmos os ODS? Em que medida essas ações estão sendo efetivas? Aparentemente, muito pouco. Em reportagem recente publicada aqui no portal Aupa, o diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, afirmou que “Se tudo continuar como está, apenas o ODS 7 será alcançado no Brasil. E não queremos e não podemos deixar que as coisas sigam nesta direção”.
E por que está sendo tão difícil avançarmos na Agenda 2030?
Uma dificuldade inicial para termos ações mais efetivas pode ser o conhecimento superficial que algumas empresas parecem ter dos ODS, mesmo que estes tenham sido lançados em 2015. Muitas publicizam em seus sites ou relatórios para quais ODS estão contribuindo (ou acreditam estar), mas nem sempre vemos a indicação de para que metas especificamente (entre as 169 metas dos ODS). Só que: se não atingirmos as metas, não atingiremos o objetivo global.
Outro problema pode ser uma tentativa de “querer abraçar o mundo”, escolhendo tantos ODS para atuar que, ao final, a contribuição efetiva não se dará para nenhum deles. Empresas mais sérias, com áreas de sustentabilidade estabelecidas, em geral partem de uma análise de materialidade, isto é, de quais os temas prioritários para a empresa e seus stakeholders para definirem sua estratégia de atuação em prol dos ODS. E aqui fazemos um mea-culpa, como acabamos de entrar no Pacto, a ponteAponte ainda não definiu sua estratégia de atuação com os ODS e suas metas, mas já estamos nos debruçando sobre isso.
Em outros casos, pode ser “preguiça” mesmo. Em artigo recente no Linkedin, a consultora de sustentabilidade Priscilla Navarrette comentou que “Não há sustentabilidade sem esforço e, aqui no meu microcosmo de atuação, percebo que há alguns querendo apenas flertar, em vez de namorar, noivar e casar com o tal ESG.”
Existe ainda, infelizmente, o social washing, em que empresas publicizam estarem colaborando para o alcance dos ODS, porém apresentam casos de corrupção, discriminação, racismo, entre inúmeros outros problemas que vão na contramão de um mundo mais justo e sustentável. No podcast #12Como as empresas podem doar, lançado esta semana, do Instituto Mol, meu sócio Cássio Aoqui fala um pouco mais sobre social washing durante a pandemia de Covid-19.
E o que você e sua organização estão fazendo para contribuir, de fato, para atingirmos os ODS em 2030? Vale lembrar que não se muda o mundo copiando uns selinhos coloridos e colando no site e nos relatórios.
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.