Não concordo com institutos e fundações captando recursos. 

Acho sacanagem 
Acho desvio de finalidade
Acho desleal com as OSCs.

Não são, afinal, investidores sociais?
Então, que invistam no fortalecimento da sociedade civil,
Ao invés de disputar recursos com ela.

Mas dificilmente você lerá ou ouvirá
Este tipo de opinião
Fora da rádio corredor.

Não acho que impacto tem que 
Compor com o mainstream.

Ou melhor,
Uma certa concepção de impacto,
que seja comprometida com
uma certa transformação socioambiental mais raiz, digamos. 

Pedir a benção ao mainstream
não seria um contrassenso?

Embora isso seja apenas a minha opinião 
Eu sigo tentando atuar com um hacker neste grande sistema. 
Em prol dos fazedores de impacto mais raiz,
os que costumam chamar de patinhos feios,
os que seguem com os pés no barro,
os periféricos, os fora do eixo, os de fora da panela.

Entrei nesse barco e sigo nele.
Não por causa das grandes empresas,
Dos grandes bancos e grandes investidores. 

Mas, sim, 
pelos seus “Toninhos”, pescadores da vida;
seus Chicos, pequenos agricultores; 
pelas Donas Marias, das comunidades;
por tantos microempreendedores das quebradas,
periferias e rincões do Brasil; 
pelas ONGs que “atrapalham”, o país. 

Não concordo com uma certa onda solidária 
que repercute recordes de doação,
mas que segue meio neutra
à atuação mais crítica e política 
e
descolada dos aspectos estruturantes
do nosso sistema,
que segue produzindo desigualdades.

Doação pela doação
não muda o mundo.  

Sim, ameniza parte
dos seus sintomas, 
mas também não seria uma cortina de fumaça
sobre nossa percepção mais profunda dos problemas?

Não concordo com
o exagero nas porcas e nos parafusos
de um mundo do impacto acadêmico demais, 
com tanto rococó intelectual e fetiche por termos em inglês. 

E, ainda assim,
seguimos sonhando
com a popularização da agenda. 

Desse jeito
fica meio difícil, né?

Não acredito que siglas, modismos 
e velhos conceitos em novas embalagens
vão mesmo gerar um ciclo virtuoso de impacto positivo. 

Não gosto de colegas que poderiam
se posicionar mais, usar seus chapéus institucionais
para colocar mais pimenta nos debates e análises,
mas seguem o jogo da brodagem de conveniência,
frente a tantas distorções e contradições 
em nosso ecossistema de impacto. 

Não faço parte da panela
que tenta não se parecer uma 
e insiste em nos vender a ideia 
de que somos todos amigos 
e entusiastas com a chegada de novos entrantes e novas ideias. 

Há mesmo espaço para novos entrantes
no tal ecossistema de impacto? Quem? Quais? De onde? 

Me incomoda ver tanto conflito de interesse
travestido de suposta colaboração e parceria, 
até que a chance de um novo contrato ($) 
jogue esse papo furado por terra.

Sim, eu sei,
todos temos boletos pra pagar.

Mas, então, 
porque não somos mais coerentes
em nossos discursos supostamente
em prol do ecossistema?

Me irrita a inacessibilidade
de tantas cabeças do ecossistema, 
que se dizem sempre abertos a um café,
mas nunca respondem mensagens

reserva de mercado?
ou
sistema pay-per-view?

(a depender do chapéu institucional, claro)

É assim que vamos abrir a roda
e ampliar o ecossistema?

Faça seu teste,
caro(a) leitor(a),
e tire suas próprias conclusões. 

Sigo tentando colocar em prática
tudo isso que critiquei neste texto

Tarefa nada fácil, 
convém lembrar.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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