Na minha trajetória profissional no campo de impacto, aprendi cedo que a maior parte das empresas executa suas ações de responsabilidade social corporativa por meio de projetos. Nestes quase 20 anos, presenciei muitos questionamentos sobre a efetividade de um projeto na busca por impacto. O questionamento tem fundamento: empresas, governos e sociedade civil querem colaborar de maneira “controlada” com a geração de impacto social – na intenção de garantir que o tempo, os recursos e os esforços aportados estão sendo úteis.

Considero que “impacto social” pode ser o conjunto de efeitos de uma ação, que geram o desenvolvimento ou as melhorias sociais desejadas. Alterações em um ambiente natural, que têm consequências em áreas como saúde, segurança ou bem-estar de pessoas, podem ser qualificadas como impacto.

Por projeto, gosto da definição de que é um empenho de recursos em um determinado período, para alcançar um fim específico. Assim, pergunto: em um projeto que afeta vidas, onde, qual ou quando é o seu fim? Como sabemos, ao longo do percurso, se estamos caminhando para o “fim” esperado?

Ferramentas para medição de impacto foram criadas para “garantir” que um projeto não seja inócuo: técnicas foram ensinadas, discutidas e divulgadas. Mas este texto não pretende falar sobre nenhuma delas. Gostaria de apresentar meus aprendizados na criação de modelos de avaliação de impacto e os aprendizados obtidos escutando clientes, alunos e parceiros sobre seus desafios e suas dúvidas sobre esta árdua e, quase, ingrata tarefa.

Cada vez mais, tenho a convicção de que um projeto com impacto relevante é aquele cujos gestores e envolvidos foram capazes de perceber e gerir considerando o fato de que projetos sociais têm complexidades ímpares. Eles reconhecem que as intervenções do projeto tratam das vidas de populações e afetam as expectativas sobre as vidas destes grupos.

Hoje, aplaudo e gosto de trabalhar com gestores que reconhecem, durante um projeto, a força que suas ações têm junto àquela população, ou aquele bairro ou até mesmo determinado grupo – que, na maior parte das vezes, está em condição vulnerabilidade maior. Essas pessoas são cautelosas ao intervir na vida das comunidades. E ser cauteloso é como um impacto positivo verdadeiro, que será alcançado por meio das ações do projeto.

Eu não acredito haver (talvez, ainda) uma ferramenta de gestão capaz de considerar plenamente toda a impermanência, o dinamismo e a riqueza das relações humanas. É importante lembrar que uma ferramenta que traduza que “o impacto” almejado é apenas uma simplificação de um conjunto de fatores. E que este conjunto deve ser olhado de maneira integral e através do maior número possível de camadas que a razão e a capacidade crítica podem listar.

Tratar projetos de avaliação de impacto com a simplicidade de um projeto comercial, considerando apenas indicadores, OKRs ou índices como medição de impacto, é reduzir a complexidade humana a processos mapeáveis por organogramas e fluxogramas. A avaliação de impacto de projetos sociais ou ambientais não é cartesiana e tampouco óbvia. Enquanto ciência, é um campo do conhecimento novo e que se está desenvolvendo. As técnicas e metodologias: divergentes e convergentes entre si. Creio que independentemente do método que for usado, o melhor será aquele que olha de maneira legítima para as necessidades – verdadeiras – das pessoas que afetadas pelo projeto.

 

 

*Créditos da colagem: Murilo Mendes. 

 

 

4 comentários

  1. Curti bastante a abordagem direta, adequada e honesta deste artigo.

    “Tratar projetos de avaliação de impacto com a simplicidade de um projeto comercial, considerando apenas indicadores, OKRs ou índices como medição de impacto, é reduzir a complexidade humana a processos mapeáveis por organogramas e fluxogramas. A avaliação de impacto de projetos sociais ou ambientais não é cartesiana e tampouco óbvia. Enquanto ciência, é um campo do conhecimento novo e que se está desenvolvendo”.

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