Lilian Prado, diretora institucional da Acreditar, foi a convidada do quarto episódio da série “O que não te contaram sobre impacto?“, do AupaCast.
Mãe, nordestina e moradora de Glória do Goitá, município de Pernambuco, Lilian conta que o empreendedorismo social foi a chave para ter a iniciativa de estudar Administração de Empresas na graduação. O que para ela foi algo “totalmente fora do esperado”, inclusive, é a primeira de sua família a ingressar no Ensino Superior – detalhe que, um ano depois, motivaria a sua mãe a também entrar na faculdade. “Algo que mudou a minha vida (a graduação), porque quando eu era pequena, ainda sonhando, parecia ser ‘coisa de outro mundo’, as pessoas riam da minha cara. Não era acessível a todos”, explica.
O negócio
Fundada em 2001, a Acreditar atua com microcrédito para promover desenvolvimento local e cultura empreendedora em sete municípios do Agreste e da Zona da Mata Pernambucana: Feira Nova, Lagoa do Itaenga, Chã de Alegria, Glória do Goitá, Vitória de Santo Antão, Gravatá e Pombos. A inspiração para o negócio veio quando Lilian percebeu o número de pessoas que partiam da sua cidade rumo a São Paulo pela necessidade de maiores oportunidades de emprego. “Queríamos estimular as pessoas a montarem seus negócios, gerarem renda e, com dignidade, continuarem a viver aqui. Propagar a ideia de que não é só a necessidade que leva você a empreender, é possível criar uma ideia de negócio também”, lembra.
A organização social acolhe o empreendedor e o seu sonho, ajuda a formatar o modelo de negócio e, no final, empresta recursos para ele se tornar operante. “Trazemos uma capacitação, com um olhar para o micro, dentro de uma linguagem acessível e popular, para que as pessoas consigam compreender e montar suas ideias de negócios”, acrescenta.
Ao ingressar no ecossistema de impacto socioambiental, Lilian relembra alguns constrangimentos que enfrentou por conta do seu negócio ter uma atuação mais abrangente. “Quando íamos dialogar com o mundo das microfinanças, não éramos considerados um banco, mas, sim, uma ONG (Organização Não-Governamental). Quando buscamos as ONGs, eles diziam que éramos um banco. Por muito tempo, isso se tornou uma questão para nós. Hoje, entendemos que é necessário combinar o sonho, a formatação dele, a parte do recurso, o acompanhamento junto ao negócio, entre outros pontos que oferecemos, para o desenvolvimento local ser estimulado”, justifica.
O desafio e as soluções
O principal público atendido pela Acreditar são mulheres, geralmente desempregadas e com baixo nível de escolaridade, que buscam gerar renda para sua família. Por conta do contexto social, as oportunidades para essa parcela da população têm tendência a serem mais desafiadoras. Apesar das dificuldades, o que Lilian e sua equipe oferecem são espaços de inclusão: “Não é porque essa mulher não sabe ler que está limitada, ela ainda consegue ouvir ou se expressar. É possível que ela aprenda, traga suas opiniões e entenda a dos outros nesses espaços de formação”, afirma.
Lilian percebe que seu trabalho rompe ciclos ao permitir acesso para que grupos invisibilizados possam empreender, inovar e trilhar seu tão sonhado caminho de sucesso. “A Acreditar é esse lugar para incubar ideias e torná-las atividades geradoras de trabalho, renda e diminuição das desigualdades. É isso que vemos no nosso dia a dia, uma mulher que consegue gerar renda para si própria e para a comunidade no entorno”, comenta.
Em referência a Muhammad Yunus, Lilian não acredita em comunidades pobres, mas, sim, em territórios que deixam seu dinheiro sair. “Se olhar para minha cidade, Glória do Goitá, você acharia que somos pobres e que faltam recursos. Porém, se um bairro tiver 10 casas com um salário mínimo, quanto de renda será gerado? Se forem 20, 50 casas? Mesmo em lugares pequenos, circula muito recurso. Trazendo melhorias para a vida, o trabalho e a renda dos moradores”, ressalta.
Confira o episódio completo.
Serviço
Nome do empreendedor: Lilian Prado.
Negócio: Acreditar Microcrédito.
O que (o negócio) faz: Promove desenvolvimento local e cultura empreendedora em regiões do Agreste e da Zona da Mata Pernambucana.
De onde é: Glória do Goitá (PE).
Quando começou: 2001.
Principal tema da conversa: Como incentivar o desenvolvimento local e fazer os recursos circularem dentro do território.
Soluções buscadas: Oferecer capacitação, microcrédito e acompanhamento aos microempreendedores e negócios locais.